Albergue Espanhol
Posted: segunda-feira, 2 de novembro de 2009 by Marcelo Augusto in Marcadores: Audrey Tautou, Crítica, ResenhaLeia Mais
O Albergue Espanhol é um filme camuflado. A obra promove a sua história como uma ficção voltada para a temática mochileira, mas se revela um conto emocional acerca de seu protagonista, tornando o filme em um romance urbano ambientalizado em um cenário turístico: Barcelona.
O caso é: Xavier, jovem ambicioso, prestes a conquistar o seu emprego mais valorizado, descobre que no seu caminho há uma pedra: ele precisa aprender o espanhol antes de se formar, já que a empresa que o pretende contratar só o empregará no setor econômico voltado para a Espanha. Logo, Xavier se debanda para a cidade mais dinâmica da Europa: Barcelona.
A alma do filme é indiscutivelmente dinâmica ( e não entenda isso como um ponto positivo ): acompanhamos o que é viver na Espanha, rodeado de pessoas de várias nacionalidades. Uma explosão de trejeitos multiculturais ? Não, o filme não é, definitivamente, isso; apesar de tentar ser. Albergue Espanhol está muito mais para um filme ritmico com dosagens de encontros culturais simples e superficiais, chegando inclusive, a ser irritantes.
O ápice da obra ( se é que pode ser interpretado como ápice ) é, na verdade, o modo como é contada e o processo que Xavier passa vivendo essa experiência. É inegável dizer que o filme transmite, de forma idealizada e ridícula, a alma universitária de Barcelona. As personagens do filme são ocas, mas mesmo assim, dançam e pintam no filme, fortalecendo, infelizmente, a idéia da juventude radical e futil que a obra realmente enfatiza.
Drogas, festas, mulheres, sexo. O filme explora todo o universo estereotipado dos jovens independentes, pecando por generalizar: é visível a forma como ele define que todos os estudantes estrangeiros são boêmios e efêmeros.
Xavier descobre a si mesmo descobrindo Barcelona, e é justamente esse ponto que [ quase ]salva o filme. Não pense que Albergue Espanhol é um filme recheado de conflitos culturais, porque passa longe, e extremamente longe disso. A trama é tão simples que se torna muito fácil, e as vezes, chata de acompanhar.
O filme é impetuosamente fraco na sua essência, tornando-se um filme pífeo e lamentável quando se fala em desenrolar temático. As cenas não apresentam interação entre si, tornando o filme extenso e descontínuo. Tem horas que se torna cansativo, já que não apresenta clímax, e sim, pseudo-clímax.
A impressão que Albergue Espanhol dá é a de que ele é um filme amador que ilude as pessoas com a idéia de que o filme é um choque divertido de pessoas falando línguas diferentes e tudo mais. A forma clichezenta que o filme contém também ajuda na repulsa pela obra.
O mundo de universitários abordado pelo filme é muito rebelde, e esse é o maior pecado de Albergue Espanhol. Além desse tema, existe um ponto de fuga do filme que o torna um pouco ( mas bem pouco mesmo ) mais interessante: Xavier se envolve em um caso conjugal, lê-se traição.
Essa parte do filme atenua as besteiras que a obra transmite e o torna inclusive, digamos que, tragável. As atuações dos filmes são vazias não por falta de profissionalismo, mas por falta de alma dos personagens. Interpretar um dinamarquês falando xingamentos, fumando um baseado e se divertindo na boate não é tão difícil. E isso vale para o alemão, para a belga, para o inglês e todos os demais.
O filme se torna uma decepção para quem gosta do assunto de mochileiros, viagens, intercâmbios e relativos [ como eu sou ]. Na verdade, o filme é uma eterna mentira: em todos os seus momentos, ele tenta transmitir a idéia de transitação entre diversas nacionalidades, o que simplesmente não acontece.
Tecnicamente falando, o filme não é mal feito. A trilha sonora é tímida mas remete sim a Barcelona, e a direção de filmagem é profissional. Um ponto positivo é a tentativa de mostrar essa dinâmica Barcelona - Multinacionalidades através dos efeitos visuais: vemos uma cena com várias telas de acontecimentos, e vemos cenas serem aceleradas. Os diretores do filme produziram sua continuação Bonequinha Russas, com as mesmas personagens. Vendo essa primeira obra, torna-se difícil querer encarar a continuação.
Albergue Espanhol é tristemente, uma obra pela qual se deve passar longe. Ela não oferece uma temática verdadeiramente apaixonante, não desenvolve uma história contínua, e quase não sai da linha do razoável, e quando sai, é para abaixo dela.
Novembro teve uma abertura digna de ser esquecida aqui no Cinemótica. L'auberge Espagnole é, sinceramente falando, uma obra indigna e decepcionante. Audrey Tautou, presente como coadjuvante no filme, com certeza deve querer queimar todos exemplares deste filme. Quem realmente gosta de Tautou, passe definitivamente longe dessa obra. Tautou aparece míseros minutos na trama, mas são suficientes para colocar em dúvida se ela é realmente a consagrada atriz Audrey Tautou.
Resumidamente, em exatas quatro palavras, o Cinemótica decreta: fique longe desse filme.
Abraços.
Tanto ele quanto sua continuação me atraem. Vou procurar.