Ervas Daninhas
Posted: quarta-feira, 11 de novembro de 2009 by Marcelo Augusto in Marcadores: Crítica, Festival, Resenha, SurrealismoLeia Mais
Ervas Daninhas, filme lançado no Festival Internacional de Cinema, expressa um cinema mais etéril, pulsante e psicologicamente despreendido de pretextos. O filme é esteticamente genial, mas a sua verdadeira genialidade é o enredo surreal e divertido dirigido por Resnais. Poucos conhecem esse cinema mais irreverente que preza pela metafísica da arte cinematográfica e exponencia a mente fértil do ser humano, uma vez que a sua disponibilidade é díficil. Ervas Daninhas não é nenhuma obra prima, mas provoca e brinca com o publico, tornando-se, assim, um bom filme para se conhecer melhor esse pouco acessível mundo do cinema excêntrico.
A obra Herbes Folles trata-se de uma história simples: uma senhora francesa tem a sua carteira roubada, que é encontrada por um senhor, no estacionamento de um shopping. Esse senhor, então, prioriza como objetivo maior a devolução do objeto á dona. Inicia-se aí um jogo divertido de perseguição, amor e obsessão entre os dois envolvidos nessa casualidade.
Com um enredo banal, como o próprio diretor definiu, Ervas Daninhas é um provocante romance atípico, envolvido por cenas surreais e por momentos bizarros e metafóricos. As pessoas acostumadas com a tradição dos cinemas normais poderão se sentir incomodadas com a obra por se tratar de um película extremamente subjetiva e arrojada de cenas paradas e monótonas. O filme se revela uma deliciosa metáfora que pode ser desvendada durante a obra, com um pequeno auxílio do seu título. Sinteticamente falando, Ervas Daninhas está longe de ser um filme perfeito, mas possui um interessante recurso cinematográfico.
Ervas Daninhas se configura como um filme polêmico: alguns saem da sala de cinema irritados, já outros saem com um sorriso surpreso no rosto. Talvez seja por essa controversia que seja aconselhável conferir a obra. O filme não decepciona na parte técnica e possui um excelente e maduro elenco.
Marguerite, a senhora que perde a carteira, é excêntrica e uma frustada amorosamente. Pois é, Marguerite pode ser qualquer um de nós, e é nesse ponto que o filme se amarra: no simplório e comum acidente doméstico da vida que pode afetar, terminalmente, a vida de qualquer um.
No meio de toda a trama, justamente no centro, encontra-se Georges. De imediato, percebemos que esse senhor não é comum e que há algo instintivo nele que se esconde em seus pensamentos mais ocultos: ele começa a fantasiar com Marguerite, apenas por possuir a sua carteira em mãos. Um obsessivo? Talvez, mas Georges se revela como um personagem muito mais profundo que qualquer obsessão amorosa. Dessa forma, logo criamos um dúvida no ar: quem é verdadeiramente Georges? E aprendemos que dele se pode vir qualquer coisa. Justamente nesse tocante, que o filme circundeia os fatos.
O ar da casualidade logo adquire um tom de improbabilidade, inovação, quebra da rotina. O simples roubo de um carteira introduz á vida de Marguerite um homem, e gradualmente, vemos, de forma criativa, como Marguerite reage com aquela nova situação.
Um dos melhores pontos do filme é a instropecção mental feita no consciente de cada um dos personagens, perpetuando ao filme, um ambiente imaginário, funcionando quase como um diário-confessionário. A riqueza das palavras soltas, das divagações dos olhares e das pequenas ações do ser humano são retratadas de forma elegante e provocante, como disse acima.
A história do filme não é concisa, mas, mesmo assim,é sutilmente elegante. Confesso que tantas sutilezas acabam por nos entediar um pouco ao ver o filme, mas analisando a obra de forma universal, é perceptível o seu encanto artístico. As cenas do filme são imprevisíveis e seguem uma linha de coerencia abstrata, tornando o filme cada vez mais interessante. O surrealismo da obra, prática usada de forma assumida pela direção do filme, se manifesta mais ao final, onde as coisas começam a se encaminhar para um fim completamente maluco e ao mesmo tempo, divertido.
Existe uma brincadeira fantastica feita pelo diretor do filme durante as cenas finais do filme: ele mistura a simplicidade de pequenos momentos da vida, como um zíper de baguilha emperrado e eleva ao extremo, criando situações inusitadas nascidas de momentos desprezíveis na nossa vida. Algo como casualidade versus o desconhecido.
Ervas Daninhas é um filme muito competente, impetuoso e dual. O interessante de todo seu fervor é o jogo induzido que se manifesta como algo dissolvido na atmosfera do filme, presente constantemente em todas as cenas. A obra é clean e fiel ao que se propôs, o que nos possibilita gostar muito do filme. Acredito que conferir essa película é no mínimo, saudável. Por tanto, procure entrar em contato com essa belíssima obra francesa.
Oi Marcelo!
Muito bonita a forma delicada como você retrata o filme. Uma história simples e banal que acaba se transformando em um prato cheio para quem gosta de um bom cinema.
Sou fã do Alain Resnais, e dos filmes dele que pude vir, como: "HHiroshima, meu amor", "Meu tio na América" e "Medos privados em lugares públicos", gostei de todos, principalmente dos diálogos calmos, sinceros e verdadeiros. Rapidez não é uma caracteristíca em sua filmografia. No entanto, a forma como ele dirige e conta uma história se torna tão boa que acabamos nos vendo ali, como personagens reias de seus filmes
Com certeza, assim que eu puder assistirei este filme com a maior alegria e atenção.
Uma bela dica. E mais, uma vez, vc tem um excelente gosto cinematográfico.
Uma pergunta: ja assistiu "Cinema Paradiso"?
Um abraço.