Tomates Verdes Fritos
Posted: quinta-feira, 4 de março de 2010 by Marcelo Augusto inA fábula ganha vida na estruturação de como esses dois dramas colidem: através da narração de Ninny Threadgood, uma idosa senhora, magicamente interpretada por Jessica Tandy, a história é passada de uma geração para a outra, onde Evelyn Couch escuta as narrativas das vidas de Idgie e Ruth e passa a repensar sua própria vida. Vale ressaltar que o modo como Ninny conta as aventuras das duas damas do começo do século XX , de um modo aconchegante e íntimo, é o grande responsável pela nossa afinidade instântanea com os relatos.
Dentro da história de Idgie e Ruth, existem fatores que revelam uma sociedade unida e ao mesmo tempo, uma sociedade que está passando por mudanças éticas naturais com o decorrer dos anos. Os valores vão mudando e a genialidade dessas duas garotas acabam por modernizar a sociedade e ganha um sentido social, quando as suas lutas passam a dar aos negros espaço entre os cidadãos. Como não é difícil de imaginar, lutar por uma sociedade mais digna acaba atraindo divergências, e é exatamente nesse ponto que a história irá se circundear. O preconceito é ainda latente entre alguns cidadãos, e a luta integralista das meninas acabará as colocando em risco de vida, ainda mais com a presença da Ku Klux Kan.
A idéia central do filme é a de mostrar como uma história de vida pode alterar outras histórias de vida e como a força entre a amizade pode ser tão verdadeira a ponto de revelar em nós o que nos há de melhor. A história cativa e traz o que é mais digno do ser humano: a honestidade de avaliar os seus atos e de refletir sobre a sua vida. A obra abusa de fatores positivos cinematográficos, como a trilha sonora adequada e extasiante, e o figurino correto e profissional. As técnicas de filmagem são competentes e o roteiro é incrivelmente delicioso de se acompanhar.
Mary Stuart Masterson, que representa Idgie, produz um trabalho encantador e acrescenta a sua personagem a nuance certa de uma pessoa forte, revolucionária e apaixonada pelas pessoas. O filme é basicamente isso: pessoas que amam outras pessoas, pessoas que lutam por outras pessoas. A mágica social textualiza cada cena e cria um contexto capaz de expressar a sensação certa. Ruth, representada por Mary-Louise Parker, é o alicerce do elenco que conclui o a mensagem da obra: a pessoa que precisa ser amada. Mary-Louise é, talvez, a atriz mais profissional do elenco relacionado a trama contada por Ninny. Ela é capaz de traduzir em seu olhar a emoção certa que a cena pede.
Existe um complexo julgamentos de valores durante o filme todo, mas a obra jamais perde seus aspectos irreverentes. A irreverência é a segunda alma do filme, sendo a primeira a amizade. O roteiro nos permite rir, ter raiva, se apaixonar e por isso, consagra a sua produção como uma das melhores do cinema. Tomates Verdes e Fritos é uma tradução da humanidade em todas as suas facetas e explora o universo mais íntimo do ser humano: ele próprio. A relação temporal entre gerações acaba ganhando um sentido mais literal e surpreendente ao fim, quando enxergamos uma relação intrigante entre Evelyn e Ninny com Ruth e Idgie. O filme merece ser visto com o olhar de um apaixonado e merece também ser lembrado como uma obra forte em seu contexto e ao mesmo tempo frágil, por narrar uma história repleta de subjetividades encantadoras. Com certeza, uma verdadeira menina dos olhos do universo cinematográfico.
Este filme maravilhoso, um dos 40 ou 50 melhores filmes que vi na vida, tem um único problema: foi lançado nos cinemas com o título em português de "Tomates Verdes Fritos". Depois de lançado em DVD, em uma das capas novas, veio grafado com o errôneo "e" no meio do título, "Tomates Verdes e Fritos". Prefiro o nome inicial, o qual era grafado nos cartazes da época.
Veja uma capa antiga (com resolução ruim, infelizmente não acho os cartazes em português daquele tempo na rede):
http://www.sensibilidadeesabor.com.br/imagens/TOMATES%20VERDES%20FRITOS%20CARTAZ%202.jpg
Grande abraço
Tommy
http://cinemagia.wordpress.com