Paris, Te amo
Posted: quarta-feira, 2 de dezembro de 2009 by Marcelo Augusto in
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Paris, Te amo é uma coletânea de diversas visões não só sobre Paris, mas sobre o Cinema, como um todo. O filme não possui apenas um papel artístico, retratando a cidade das luzes de diversas maneiras, mas possui um papel funcional, ou seja, Paris, Te amo se compromete também em mostrar como é a sintonia de diversos visionários cinematográficos unidos pela a arte que julgaram a mais fascinante de todas.
Nessa obra é possível ver o carinho despreendido pelos dezoito diretores que se empenharam em mostrar Paris de uma forma multicriativa. Não existe um tema fixo no filme, como é o amor em Nova York, Te amo. A obra demanda sensibilidade em ser resenhada, pela tamanha complexidade que possui em abraçar um projeto tão grandioso e ao mesmo tempo tão bem construído.
A ousadia em decodificar Paris de tão variados e sortidos modos, permitiram a criação de uma obra genuina, fragmentada e ao mesmo tempo coesa e completa. O filme é uma viagem mística e urbana pelas vielas da capital da França, mostrando personagens que completam a efervescência de ser Paris, viver Paris, transpirar Paris.
Não existe uma igualdade cinematográfica entre os dezoito curtas, muito pelo contrário. É contrastante a forma como arrumaram a sequencia das mini-obras, e isso faz parte do show. O filme é extremamente assimétrico: existem tramas com maiores pesos seguidos ou antecedidos por tramas triviais e vagas, existem tramas fantasiosas, que ultrapassam a realidade em si, existem tramas confessionais, tramas satíricas, tramas sexualizadas e mais uma série de gêneros de tramas. Essa divergência de foco acaba integrando um plano maior: mostrar o quanto Paris é complexa e diversificada.
A fórmula do filme é sensacional e é uma fórmula totalmente diferente da vista em Nova York, Te amo. Lá, as tramas são niveladas, e possuem um clima mais igual, quebrando um pouco esse descompasso artístico que Paris possui. Mesmo assim, isso não torna um filme melhor ou pior que o outro, isso torna os filmes apenas diferentes.
Na realidade, Paris possui um amor diferente do idealizado por diversos filmes, e graças a Deus, Paris, Te amo quebra esse tabu de que Paris é a cidade do amor ideal. Os amores retratados no filme são amores reais, amores diferentes: vemos o amor familiar, o amor pela religião, o amor pelo ofício e muito mais. O amor é retratado também de forma temporal, com vários contos que mostram um amor já desmistificado, ultrapassado.
Paris, Te amo possui vários momentos chaves, dentre eles, cito: Porte de Choisy { curta que retrata um senhor em busca de vender seu produto em uma atmosfera ambientalizada pela moda excessiva de Paris }, Tour Eiffel { o encantado mundo dos mímicos }, Tuileries { o engraçadíssimo curta do homem que sofre dentro de uma estação de metrô }, o líndissimo Place des Fêtes { curta que fala do amor encontrado em segundos, pela paramédica que atende a um imigrante, quase morto. }, Père-Lachaise { o genuino conto da briguinha conjugal dentro do cemitério mais conhecido do mundo }, e os dois últimos que, pessoalmente falando, se comprovam como os dois melhores curtas de toda a trama, Quartier Latin { um encontro de dois ex-casados em busca da assinatura dos papéis da separação } e o sensacional 14ème Arrondissement { último curta, onde uma típica caipira dos Estados Unidos encontra a felicidade triste e feliz em Paris }.
Esse último conto sintetiza o amor de Paris em um monólogo desbravador que torna exato, em cada palavra, a sensação de Paris nas pessoas que têm a oportunidade de vê-la. Eu já tive essa oportunidade, e realmente, encontro a mesma sensação que a linda Margo Martinda nos mostra em sua linda atuação.
O filme possui um veia pulsante de idéias e mostra Paris de forma mais real e ao mesmo tempo mais fantasiosa, estabelecendo uma relação dual entre as várias mensagens que o filme se propõe a mostrar. O plano de fundo do filme não é apenas os belos lugares de Paris, mas também lugares normais, pouco conhecidos, retratando a cidade também de forma menos turística.
Reunindo crânios como Alexander Payne, Wes Craven , Jean-Claude Larrieu , Gérard Depardieu e inclusive o brasileiro Walter Salles { com um curta bonito e nada mais que isso }, Paris, Te Amo é uma deliciosa obra, criativa, ousada e diferente de tudo aquilo que estamos acostumados a ver. O filme é uma sinestesia de gêneros, uma obra multicolor, um emaranhado de cortes criativos, que retratam não só Paris, mas a criatividade humana, e a sua adaptação e integração a uma cidade tão complexa como é a capital francesa.
Um filme lindo de se ver, daqueles que te convencem de que o cinema possui vários papéis na sociedade, não só aquele de retratar e ficcionar.
Concluo que Paris, Te amo é uma obra convicente, elegante e interessante. O filme possui dezoito marcas, sendo elas diferentes entre si, umas muito boas, outras medianas, outras dispensaveis. Mas mesmo assim, essas dezoito marcas produzem um contexto maior, um contexto real e convergente de diversas visões que se unem na arte de entender e completar Paris.
Nota: 9.4
Abraços!
sua resenha me deu até vontade de ver o filme!