Forrest Gump

Posted: terça-feira, 8 de dezembro de 2009 by Marcelo Augusto in Marcadores: , ,
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 Aviso: 67 % de spoiler

Forrest Gump é uma das obras mais cativantes que o Cinema já construiu. O filme possui elementos inéditos em relação ao tempo que foi lançado e consagra Tom Hanks como um dos melhores atores de todos os tempos. A história do filme é apaixonante e abusa da sua simplicidade permanente. A trajetória de Forrest Gump ilustra muito bem a história contemporânea dos EUA, através de uma forma riquíssima, irreverente e carinhosa.

O filme começa com uma pena caindo, aleatoriamente, nos pés de Forrest. Depois desse momento de suma importância para se entender a alma do filme, que explicarei mais adiante, Gump começa a contar sua história, sentado num banco de uma parada de ônibus. De imediato, percebemos que Gump é a ingenuidade e inocência em pessoa, e isso favorece para que a sua história seja mais linda e emocionante ainda.

A medida que nos aprofundamos na narrativa de Gump, vamos nos identificando pelo seu personagem e criando uma relação tão consistente com o filme, que acabamos envolvidos por todos os momentos da obra. Acompanhamos a infância de Forrest, e logo no ínicio, conhecemos  Jenny, sua única e verdadeira paixão. O filme lança mão dessa simbiose entre os dois personagens e concretiza todos os aspectos necessários, para que mais tarde, o filme se desenvolvesse de forma mais fluente, usando a dialética Gump-Jenny como pilar para que a história proceda.

A vida juvenil de Gump é a típica vida de qualquer americano daquela época, e nesse momento, percebemos a primeira de muitas qualidades do personagem: a sua capacidade de correr. Forrest usará essa artimanha durante sua vida toda { inclusive durante uma sequencia toda do filme }. Foi essa capacidade que permitiu Gump ser jogador na faculdade e permitirá, mais tarde, que ele se torne ícone americano { explicarei mais tarde esse momento de sua vida. }

Entrando na vida adulta de Forrest, percebemos que ele viveu uma fase turbulenta, que envolveu Guerra do Vietnã, Manifestação Pública, Campeonatos pelo Exército. No período em que passa pela Guerra, Gump continua sendo a mesma criatura dócil e inocente de sempre, e é graças á essas características, que torna Forrest em um grande soldado americano. Desse momento, as primeiras prerrogativas de uma vida adulta invade a existência de Gump, começando a torna-lo mais maduro. Ele ainda nutre veementemente sua paixão pela Jenny, que visivelmente, não sente nada por ele, além de um carinho afetuoso enorme.





Inicia-se aí a fase mais dark de sua vida, quando Gump descobre que Jenny não vive uma vida muito boa, já que ela se rendeu ás drogas e as humilhações machistas típicas daquela época. É nessa fase também que Forrest começa a ter que lidar com a morte: principalmente de seu grande amigo morto em guerra, o Bubba.{ criatura mais irritante e bizarra de toda a história do cinema, quem viu o filme, me entende, rs } No entanto, é nessa fase, que Forrest precisará entender que a vida é mais complicada que parece, quando ele percebe que suas atitudes, por mais claras e certas que fossem, não trazia a felicidade esperada. Essa situação é bem dialogada através do personagem de Gary Sinise, o Tenente Dan Taylor. O Tenente é salvo da morte por Gump, mas acaba perdendo ambas as pernas, provocando em Dan um sentimento de revolta por ter sobrevivido. Nesse contexto, Gump começa a ter que lidar com as complexidades - inesperadas - da vida.

Usando como plano de fundo do filme, está toda a história conturbada de um EUA lutando pela posição maior no cenário mundial, tendo que lidar com movimentos hippies e inclusive movimentos étnicos, como os Pantera Negras. Nesse palco, Gump precisa construir sua história, como a figura vencedora do conservadorismo, aquele símbolo americano, que todos deviam seguir. Encontra-se aí, talvez, uma das maiores mensagens ocultas do filme que é a manipulação da sociedade em cima da figura do homem. Gump, mesmo vivendo uma vida agitada, se mantém ingênuo e apaixonado pelos outros. A alma de Forrest não se altera, e reside aí a beleza do filme, ou pelo menos, a razão por tornar o filme em uma obra-prima.

Depois desse período conturbado, o filme lança mão de um cenário mais calmo, onde Forrest se encaminha para uma idade mais madura, vivendo uma aventura nova: dono de um barco de camarões { em homenagem a seu amigo morto na Guerra do Vietnã } ao lado do ainda revoltado Tenente Dan. Vale frisar que Jenny não se mantém, momento algum, após a infância, presente na vida de Forrest, salvo apenas alguns momentos em que se esbarram durante o filme. Nesse momento de sua vida, Forrest começa a pensar, compulsivamente, pelo seu amor perdido. E nós, o público, torcemos para que a relação Jenny-Gump aconteça, mesmo sabendo, que não existe reciprocidade entre eles.

Ao fim do filme, ocorre uma reaproximação de Jenny e Forrest, mas, posteriormente, percebemos que Jenny apenas se rendeu ao amor de Forrest, e decidiu fazê-lo feliz, mesmo que por um breve momento. Antes que notemos, a personagem saí tão repentinamente como entrou, da vida de Gump. Porém, depois desse momento, a vida de Gump se altera definitivamente. Desesperado por perdê-la, Forrest simplesmente decide correr. Ele corre durante quase três anos e meio, tornando-se novamente ícone americano. De imediato, percebemos que aquilo é a fuga de Gump em relação á sua fracassada vida amorosa.





O filme é simplesmente fantástico. A magia da obra não se encontra somente nesse contexto exposto até aqui, mas vai além disso: a direção do filme introduziu aspectos irreverentes no enredo, brincando com o destino de Gump, o tornando responsável pelos passos de Elvis Presley, e criador da música Imagine, de Lennon. O filme, inclusive, coloca Tom Hanks, ao lado, de John Lennon! Lógico que isso não ocorreu, e está aí um dos motivo pelo qual o filme ganhou o oscar de Melhores Efeitos Especiais.

Outro aspecto essencial para o filme, é o brilhantismo de todas as interpretações. Cabe aqui, ressaltar que Hanks nunca conseguirá interpretar tão bem um personagem, como interpretou em Forrest Gump - O contador de Histórias. Admiro, intensamente, a capacidade de Tom Hanks em desenvolver tão excepcionalmente qualquer personagem que seja incubido de intepretar. Os outros atores do filme, como Sinise e Robin Wright  { Jenny }, desempenharam muito bem também seus personagens, mas ficaram a sombra do brilhantismo de Hanks e seu personagem, Gump.

Alan Silvestre criou uma trilha sonora tão bem construída, que não posso escrever essa resenha sem citá-lo. As músicas do filme se encaixam perfeitamente com os momentos em que são colocadas, e ouvir Hendrix nunca é demais! Os outros aspectos técnicos do filme são de mesmo esplendor e tornam o filme, em uma obra inesquecível. O filme possui cenas muito bem feitas e é incrível imaginar como eles souberam aproveitar cada minuto do filme.
 


Bem no final do filme, Jenny finalmente se casa com Gump. No entanto, é obvio que ela se submete a isso apenas porque, estando em estado terminal de AIDS { não fica explícito que é essa a doença, mas se percebe facilmente que é, no mínimo, uma alusão ao período de pandemia da AIDS no mundo }, ela precisa que alguém cuide - pasmem - do seu filho, que também é filho de Forrest Gump! É justamente esse aspecto que dá sentido a vida de Gump e será esse filho que fará com que a vida de Forrest, após a morte breve de Jenny, ganhe algum sentido. 





Entra então em cena, uma das melhores cenas do Cinema: o monólogo que Forrest faz consigo mesmo, na frente do túmulo de Jenny. Ele explica o quanto a amou e o quanto ela foi importante na sua vida, e tenta explicar porque essas coisas acontecem. É exatamente nesse momento, que entendemos o motivo da pena no ínicio do filme. Gump fala que existe sim um destino, ao qual devemos estar desprevinidos, mas que cada destino faz parte de um plano maior. 

A pena é uma métafora linda do que ele disse, mostrando que apesar dela está a mercê do vento, ela sempre cairá no lugar certo, que no filme, foi aos pés de Gump. A pena voa novamente, quando a história de Gump encerra-se de forma simbólica { quando ele leva seu filhinho, também chamado de Forrest Gump, para a parada do ônibus escolar, em alusão ao ínicio do filme, que também possui essa cena. }. A pena voa, aleatoriamente entre as árvores, e termina caindo em nossa direção, terminando o filme com a mensagem de que a sua história também é fantástica, assim como foi a história de Forrest Gump.



Nota: 9.5
Abraços

27 comentários:

  1. Anônimo says:

    Dificil eu fazer algum comentário sobre esse filme! Um dos melhores que já assisti. Assisto sempre que passa na TV. Atuação impressionante de Tom Hanks. Roteiro que envolve. Muito bom mesmo.

  1. Um marco, realmente um belíssimo filme poético que emociona até hoje em dia. É difícil expressar o quão este filme me marcou, o "run, Forrest" ainda ecoa em mim e é determinado pela nostalgia que ele me impulsiona.

    A direção de Robert Zemeckis(que você sequer citou o nome dele na bela resenha) é cuidadosa, sutil, inteligênte, intensa - coloca os atores pra serem passionais, emocionais, isso provoca a identificação imediata.

    É um roteiro preciso, uma fotografia contida mas conceitual, o filme tem diversos bons pontos a discutir, algo que você soube bem conceber aqui.

    Demorou pra vê-lo, hein?
    Mas, no cinema, nunca é tarde pra nada.

    Abraço!

  1. Oi Marcelo!

    Obrigada pelo convite. E é claro que aceito. Adorei a idéia.
    Inclusivé há uns dias átras, conversando com meu amigo Marcelo do Blog "diz que fui por ai", comentei de um filme que havia visto na HBO, chamado o "o clube de leitura de Jane Austin" que fala um pouco sobre isto. Na história 5 mulheres e 1 homem se reunem para ler os livros desta autora. A cada mês um livro é lido, depois eles se reunem e fazem comentãrios e críticos sobre ele. Achei muito bacana a idéia e cheguei a falar com ele como seria legal fazer isso, so que com filmes.

    De certa forma, sua idéia é essa. Estou dentro. Pode contar comigo e se precisar de ajuda para alguma coisa, estou aqui, pode falar.

    Um beijinho.
    Ps. sua resenha ta excelente e concordo com a nota 9,5. Para mim o único pecado dele é ser um pouco arrastado. Senão fosse por isso ganharia 10, pois é um dos melhores filmes que ja vi.

  1. Tinha uma certa birra com ele porque "tirou" o Oscar (na época que eu achava que ele realmente indicava o que existe de melhor no mundo do cinema) do Pulp Fiction, mas depois que mais de dez anos e de incontáveis revisões tranformou-se em um dos meus favoritos de todos os tempos.

    Abraço !

  1. é realmente grandioso esse filme. na verdade, dos oscarizados dos anos 90, é sem dúvida, o melhor. 9.5 é pouco para o longa :)
    abraço :)

  1. Wally says:

    67% de spoiler foi ótimo! Rsrsrsrs. Quanto ao filme, amo, claro. Clássico definitivo. E Tom Hanks é eterno.

    Arrisco nota máxima para este ai.

  1. ah sim. tem um selo pra ti la no meu blog. abraço :)

  1. Dewonny says:

    Um dos melhores q vi na vida, simplesmente espetacular, a história é envolvente e cativante do começo ou fim, e Tom Hanks tá fenomenal..um filmaço!
    Abs! Diego!

  1. Ótimo texto par aum ótimo filme.
    E acho que Hanks está imortal nesse papel, um marco para a carreira dele.

  1. Marcelo,

    também te devo mais visitas amigo.

    Sua resenha do filme Forrest Gump foi o tamanho do filme, longo! rs.

    Zemeckis de fato fez um filme dramaticamente com efeitos especiais que nunca vi tão bem usados numa trama.

    Gump é uma pena que voa para todos os lugares( e corre) esse personagem é o otimismo em pessoa e Tom Hanks está brilhante - seu melhor papel. Adoro a frase: " A vida é como uma caixa de bombons você nunca sabe o que vai encontrar".

    A Sally Field está ótima e o roteiro de Eric Roth perfeito.

    Concordo contigo que o Bubba irrita (e tem uma boca de caixa eletrônico, rs) mas acho o personagem do Gary Sinise muito mais chato. O típico choramingão pós- vietnã..triste!

    Bom texto, mas faltou mencionar artifícios técnicos, assim deixa a resenha mais interessante,todavia, você fez uma incrível e notória explicação do enredo (funciona muito melhor pra quem não assistiu ao filme).

    Quanto ao clube do filme....nos falamos. A idéia me atraí!

    Grande Abs!

    p.s. o texto do UP também está muito legal..cada vez mais a PIXAR me surpreende.

  1. Eu sempre considerei esse um dos meus filmes preferidos de todos os tempos (talvez atrás de O Poderoso Chefão) mas lendo seu texto percebi que há muito eu não o vejo e já perdi inúmeros detalhes, acho que vou rever... Abraços...

    PS: 67%?? Como sabe?? hehe

  1. Oi Marcelo!

    Uma pergunta: vc tem msn ou participa do orkut?

    Aguardo sua resposta.

    Um abraço.

  1. Um ótimo filme! O que mais me encanta é a mistura da realidade com a ficção. Abraço!

  1. Marcelo,

    Bravo! Belíssima review, de uma sensibiidade total com relação a todas as facetas grandiosas do filme. Forrest Gump é sublime, queria eu que a maioria dos filmes tivesse esta poesia que se mistura com questões coletivas e individuais e que fazem do Cinema uma Arte viva e a serviço da humanidade, com suas belezas e horrores.

    Grande abraço,

    Madame Lumière

  1. Oi Marcelo!

    Meu jovem vc se aparece. Final de ano é sempre corrido e louco. Quando puder mande notícias tá.

    Aproveitando a visita para lhe desejar um feliz e alegre natal!!!!

    Um beijinho carinhoso.

    Cintia Carvalho

  1. Não sou muito fã de Forrest Gump. Há inúmeras coisas que não me agram no filme, incluindo a interpretação de Hanks - embora eu goste, não a considero tão grandiosa assim.

    Enfim, há sim partes boas, mas infelizmente não o consideraria tão bom assim. No máximo, uma nota aproximada de 7.

    Feliz Natal ;D

  1. Tal como o Diego, nunca fui fã maior de FORREST GUMP. Mas reconheço-lhe inúmeras qualidades. Grande desempenho de Tom Hanks num mimo de filme. 5/5

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

  1. Um dos melhores filmes de todos os tempos. Bom pacas. Trilha sonora, fotografia, atuações, roteiro, direção... tudo absolutamente perfeito. Abraço!

  1. O mais interessante é ver como Tom Hanks passou de ator de comédias bobas para ator premiado. Gosto mais da atuação de Hanks do que do filme em si.

    Abraço.

    Cinema para Desocupados

  1. Tem MEME pra vc lá no Blog!

  1. Run, Forrest, Run!

    Um dos meus filmes favoritos. Um dos filmes da minha vida.

  1. Olá Marcelo, tudo bem? Adorei teu blog!

    Sou colaborador do site cinedica.com.br e gostaríamos de comentar que no dia 17 de janeiro, as 22 horas, iremos agitar um bate papo em nosso site em função da cerimônia do globo de ouro e gostaríamos muito de contar com a presença de vocês e de seus usuários.
    Nosso site é feito por amantes e para amantes da sétima arte. Somos contra a pirataria e amamos falar sobre cinema.
    Dia 17 é um dia especial pois a cerimônia será mostrada ao vivo via canal TNT e não existe um lugar onde quem curte essa premiação possa debater via mensagens, os acontecimentos, ao vivo, que se seguem.
    Gostaríamos de saber se você pode nos ajudar com a divulgação desta nossa iniciativa.
    Nós rodamos a internet para encontrar sites interessantes e que fazem parte de nossa filosofia.
    Você pode conhecer um pouco desta idéia pelo link: http://www.cinedica.com.br/filmes/cinefest.php
    Desde já agradecemos e aguardamos uma resposta.

    Atenciosamente, equipe CineDica.

    rp@cinedica.com.br
    raphaelcamacho@gmail.com

  1. Anônimo says:

    Estou lançando um concurso lá no meu blog, se puder participar... Será bem vindo.

    Flávia

  1. Sem dúvida alguma um belíssimo filme. Gostei do cuidado de revelar a pocentagem de spoiler que acrítica tem. no caso, acho que 67% não foi uma porcentagem justa. Elevaria essa taxa para uns 80%. rsrs

    Grande abraço Marcelo!

  1. Um dos melhores filmes que já assistir , o que apesar de todo o roteiro me deixou mais pensativo , foi no momento em que o tenente perde suas duas pernas , apesar de estar vivo,ele diz a forest, que ele apesar de te-lo salvado tinha o deixado em uma completa depressão ,,muito bom mesmo..ótimo.

  1. Qto à Jenny, é comum atribuírem sua doença ao vírus da AIDS. Contudo, nos anos 80, o vírus da AIDS já era conhecido. Na cena, Jenny explica que os médicos não sabem com que tipo de vírus ela está infectada. É mais plausível assumir que Jenny sofra de Hepatite C, a qual só passou a ser conhecida em 1989.