Melinda e Melinda

Posted: quinta-feira, 22 de outubro de 2009 by Marcelo Augusto in Marcadores: , , , ,
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Melinda e Melinda é um filme, antes de qualquer coisa, reflexivo e charmoso. No entanto, a ferramenta que torna a obra em uma peça agradável é o tom de descontração que a história apresenta, contribuindo para que o filme seja intrigante, elegante, teatral e dinâmico.

A proposta de Woody Allen é graciosa: ele aborda as diretrizes que a vida pode seguir - comédia ou drama - e cria uma personagem - Melinda - para viver, simultaneamente, duas histórias, com os mesmo acontecimentos, com apenas uma diferença - em cada história, Melinda vive os fatos de forma cômica e na outra história, Melinda vive os mesmos fatos de forma dramática.


Apesar de tantos fatores positivos, o filme peca por ser maduro demais, estabelecendo, assim, uma relação distante com o telespectador, que não consegue se envolver profundamente com as duas histórias ao mesmo tempo.



O filme é genial, pela sua essência, já que apresenta uma forma divertida de discutir o modo com o que encaramos a vida.

A história começa com a introdução, em um barzinho, de dois diretores discutindo a forma como encaram e levam a vida: um, defende a vida como comédia, e outro, defende a vida como um drama. Nesse discurso, os diretores resolvem criar Melinda - uma personagem que viveria os mesmos acontecimentos, duas vezes: uma vez com tom de comédia e outra vez com tom de drama.

Logo, começamos a acompanhar a vida urbana de Melinda, simultaneamente: em alguns momentos vemos os momentos dramáticos de Melinda, e em outros, vemos os momentos cômicos de Melinda.

Ao decorrer da trama, as duas histórias seguem por caminhos distintos e chegam aos seus respectivos finais. Nessa temática, deparamo-nos com um filme original, e acabamos por desenvolver simpatia por alguma Melinda, em questão. O ambiente é o mesmo, e a personagem principal é a mesma, mas os coadjuvantes mudam de atrizes e atores de acordo com a trama, apresentando, mesmo assim,  personagens parecidos.



Radha Mitchel, a atriz que interpreta Melinda, é naturalmente competente e bela no filme, mas, pessoalmente falando, ela não seria a atriz certa para interpretar a personagem principal da trama - talvez por questões emotivas, já que Melinda é uma mulher extremamente sensorial, e Radha não transmite essa percepção para as pessoas que assistem o filme.

Os personagens secundários da trama desempenham seus papéis profissionalmente, e atribuem à trama a maturidade que necessita. São vários personagens secundários, alguns vivem somente no mundo cômico de Melinda, e outros vivem somente no mundo dramático de Melinda. Há apenas uma personagem fixa nas duas tramas, que é uma amiga de Melinda. Mesmo com personagens diferentes, é possível achar o 'correspondente' dos personagens na vida cômica dentro da vida dramática e vice versa.

Quanto a estrutura da história de Woody Allen, é possível se dizer que a trama é bastante irreverente e que nos permite reflitir sobre como levar a vida. A parte mais interessante ainda, é que ao longo da trama, os diretores vão fazendo comentários acerca dos fatos e direcionam nossos pensamentos, impedindo assim, que o filme perca o foco.



A parte técnica do filme é madura e consistente. A fotografia do filme distingue muito bem a parte cômica de Melinda da sua parte dramática. A maquiagem é fenomenal, sabemos distinguir as histórias só de olhar para o lápis borrado nos olhos da dramática Melinda. O filme é eloquente e não criamos dores de cabeça por causa dessa mistura de histórias e personagens. O tom de conto urbano na história remete a Sex and the City, bem de levemente.

Como eu disse antes, o filme tem todos os elementos necessários para ser um ótimo filme, mas falha em um aspecto muito introspectivo: o feeling necessário para que a história ganhe vida e calor. Esta opinião pode ser muito pessoal, mas já constatei que algumas pessoas sentiram essa falta subjetiva no filme.

Atribuo essa carência do filme na atriz selecionada para ser Melinda, que apesar de ser muito talentosa, não é compatível com a personagem; e também atribuo essa carência na dificuldade de se aprofundar em alguma temática do filme - drama ou comédia - porque não há um estudo árduo das histórias, e sim uma sondagem, quase passageira, entre todos os fatos do trama.




Melinda e Melinda é uma ótima obra para se ver, porque denota originalidade e incentiva a curiosidade dentro de nós. O filme é bem feito, bem dirigido, bem produzido e muito mais. A obra permite várias avaliações, justamente por causa dessa liberdade que o tema apresenta. Wood Allen novamente nos impressiona com sua crítica mordaz ás coisas da vida, mas, essa obra, não é, definitivamente, uma das melhores obras de sua autoria. Mesmo assim, assista Melinda e Melinda e aproveite essa viagem psicológica irreverente e satisfatória.

Abraços.

13 comentários:

  1. Não conheço esse filme, Woody Allen e suas mulheres!!!

  1. A idéia realmente é genial... Adoro a capacidade do Woody de usar atores diferentíssimos no seu filme (po, cara, o Will Ferrel), rs... Acho que foi meu primeiro Allen... Que absurdo!! hehe

  1. Ainda não assisti ao filme. Melinda e Melinda tem um excelente argumento, mas tenho um certo medo de olhar como woody allen o desenvolveu, pois não me agradam as obras mais recentes do cineasta.

  1. Leonardo says:

    Esse filme é fantástico, passei a ser admirador de Allen a partir dele, muito inteligente e com humor gostoso e irônico. Para mim é muito especial pois foi o primeiro filme que assisti no cinema com a minha noiva em 2005. Um forte abraço

  1. LuEs says:

    Marcelo, estou louco pra ver esse filme! Fui à locadora e procurei por ele, mas não encontrei. Um colega vai me emprestar e eu estou muito ansioso... tenho lido boas críticas a esse filme.
    Já tinha visto esse filme num de seus TOPs e isso já tinha me atiçado a curiosidade. Agora, não posso simplesmente não vê-lo!
    =)

    Excelente resenha.

  1. Adorei seu blog, comentários sólidos e bem feitos.
    Obs: o meu é muito simples, espero que não repare.

    abraços

  1. Dewonny says:

    Achei razoável esse filme do Allen, diretor na qual ñ sou muito fã, mas sempe vejo seus filmes!
    Abs! Diego!

  1. Oi Marcelo!

    Me desculpe pela demora em lhe responder. So hj vi seu recado no blog.

    Obrigada pela visita e volte sempre que desejar.

    Confesso a vc que não sou fã do Woosy Allen. Foram poucos os filmes dele que vi. Este aqui a algum tempinho átras ganhei da minha chefe que é dona de uma locadaora e vira e volta ela me da alguns filmes que não utiliza mais.

    Acho os filmes dele maçantes, um dos poucos que gostei foi: "A rosa púrpura do Cairo", "Noivo neurótico, noiva nerovsa" e "Vicky, Cristina, Barcelona", álias, este último nem parece ser do WA. Eu gostei muito.

    Agora, li seu texto anterior, sobre "O milagre de Anne Sullivan" e adorei. Eu amo este filme. Quando eu era pequena, o SBT sempre reprisava. Agora quase não passa. Ja tentei encontrá-lo nas locadoras aqui perto de minha casa, mas, não achei.
    A história é de uma beleza. E a interpretação da Anne Bancroft, perfeita, tanto que ganhou o oscar pela sua atuação.

    Gostei do seu blog e sempre passarei por aqui.

    Um abraço.

  1. PS. Esqueci de falar, seu texto sobre o filme "Bagda café" está perfeito. Vc tem um excelente gosto cinematográfico.
    Parabéns meu jovem!

  1. Marcelo,

    Acho 'melinda' equilibrado neste amadurecimento do Woody Allen. O velho vai amadurecer beirando os 80 anos, rs. Achei um filme enteligente, como sempre.Desta nova fase da carreira do cineasta , prefiro ainda 'Math Point'.

    Abs. excelente pesquisa e texto!

  1. Wally says:

    Gostei consideravelmente do filme, mas Woody já fez melhor.

  1. Luís says:

    Marcelo, eu finalmente assisti a esse filme.
    Achei-o extremamente válido e interessante, gostei da narrativa, do ritmo, da excelente fotografia que nos mostra as duas histórias sem nos confundirmos. Você comentou que Radha Mitchell não foi uma escolha interessante, mas eu gostei bastante de sua participação. Gostei mesmo. Quando publicarmos no LeC, vou me lembrar de dar a você os devidos créditos por me fazer ter interesse em ver o filme.