Três Vivas ao Cinema Espanhol
Posted: quarta-feira, 5 de agosto de 2009 by Marcelo Augusto inQuase duas horas depois, eu estava aterrorizado. Estava completamente alucinado. Eu tinha acabado de ver um dos melhores filmes de terror que eu jamais pensei que existiria. A história era sinistra, mas o mérito do filme não se deve somente á isso. O filme por si só, caminha sozinho. Era um daqueles filmes de madrugão, onde nunca nos lembramos os nomes do filme, mas sempre lembramos de todas as cenas! E depois de fuçar constantemente na internet, descobri que o filme se entitulava El Espinazo del diabolo. E depois de pensar um pouco, percebi que era a fotografia daquele filme que era impecavelmente assustadora. E olha que o filme não é tão novo assim. A Espinha do diabo me deixou com insônia uns bons dias.
Logo, notei que não era exclusivo daquele diretor, aquela técnica alternativa de gravar um filme. Era uma técnica muito usada pelos espanhóis. O cinema espanhol ( não vamos também generalizar ) não é somente um arte intrisecamente vazia no seu interior, mas é uma arte interconectiva. É esse o termo que melhor define para mim, um cinema que mistura uma história diferente ( que nem precisa ser audaciosa ) somado á técnicas de outras artes como a fotografia, a literatura, a História.
Hoje, resolvi especialmente citar três diretores que aplicam a interconectividade destacadamente. Cada um dos três diretores abaixos usam-se de artificios completamente permeáveis no cinema: desde a fotografia simbólica de Del Toro, o surrealismo de Luiz e o barroco de Almodovar. Esses três diretores, são três diretores pelos quais sou fã de carteirinha, e as suas trajetórias pelo mundo do cinema autoexplicam esse fato.
1 - Guillermo del Toro
Filmografia: Labirinto do Fauno, O orfanato, Espinha do Diabo
Uma pequena biografia:
Aos 21 anos, Del Toro foi produtor executivo de seu primeiro filme, Dona Herlinda e seu Filho, em 1986. Por dez anos, trabalhou como supervisor de maquiagem, até formar a sua própria companhia, Necropia, no começo dos anos 80. Dirigiu ainda programas para a TV Mexicana, foi onde aprendeu a fazer filmes. Seu primeiro sucesso foi Cronos, em 1992, filme que ganhou nove prêmios no México e se tornou um sucesso em Cannes.
Seguindo o sucesso de Cronos, dirigiu um filme de Hollywood, Mimic (1997) com Mira Sorvino. Decepcionado com o resultado pobre do filme, retornou ao México, formou a sua produtora, The Tequila Gang, e conquistou a crítica com o filme de horror atmosférico A Espinha do Diabo, uma história de fantasma passada na época da Guerra Civil Espanhola.
Del Toro voltou a Hollywood em 2002, para dirigir Blade 2 e, mais tarde, Hellboy, em 2004. Conquistou o estrelato com O Labirinto do Fauno, filme de horror semelhante a A Espinha do Diabo. Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro, em 2007.
Próximo Trabalho: The Hobbit.
Nota: Acredite, quando eu fizer a resenha sobre A Espinha do Diabo, vocês entenderão porque a posição desse talentoso diretor de filmes.
2. Luiz Buñuel
Filmografia: Viridiana, O Discreto Charme da Burguesia, A Filha do Engano, Esse Obscuro Objeto de Desejo, A Ilusão viaja de Trem, O Diário de uma Camareira.
Uma breve biografia: A obra cinematográfica de Buñuel, aclamada pela crítica mas sempre cercada por uma aura de escândalo, tornou-o um dos mais controversos cineastas do mundo, sempre fiel a si mesmo.
Buñuel voltou a Espanha após a proclamação da República e financiado pelo seu amigo anarquista Ramon Acín, dirigiu, em 1933, um documentário, Las Hurdes, tierra sin pan, que descrevia, de modo cru, a vida quotidiana e os costumes ancestrais de uma recôndita aldeia espanhola da Extremadura, profundamente miserável e em estado quase selvagem.
As imagens e os fatos descritos eram tão extraordinários e irreais, que acabariam por dar ao filme um cunho verdadeiramente surrealista. Foi um escândalo, desagradando ao governo (esquerdista) espanhol que o proibiu para grande desapontamento de Buñuel, por dar uma imagem corrompida da Espanha no estrangeiro.
Em 1964, foi produzida a sua adaptação do romance de Octave Mirbeau, Journal d'une femme de chambre, onde Buñuel transporta para a década de 1930 a atmosfera decadente da história, em que uma criada de quarto (Jeanne Moreau) se submete aos caprichos fetichistas, mas inofensivos, do patrão velho (doido por botinas), e resiste tenazmente ao assédio sexual do exasperado patrão novo (Michel Piccoli), acabando por se casar com um criado pedófilo, assassino e reaccionário.
Morreu na Cidade do México em 29 de Julho de 1983 e, conforme os seus desejos, foi cremado e as suas cinzas dispersas.
O filme é uma satíra incrível sobre a burguesia, e a história trata de uma estranha obsessão:seis amigos burgueses querem jantar juntos a todo custo, mas a janta nunca acontece. Toda vez que eles se reunem algo extremamente surreal ( é nesse ponto que entra a realeza das obras de Luiz ) acontence - desda morte do cozinheiro até um ataque terrorista inimaginável. O filme é sagaz. Quando pensamos que eles vão realmente jantar, algo sempre acontece. E em meio a toda essa loucura, o filme critica arduamente e radicalmente ( usando-se até do humor negro ) a burguesia. Mas chega por aqui, quero falar desse filme de uma forma mais especial ;P
3. Pedro Almodovar
Filmografia: Volver, Má Educação, Fale com ela, A Flor do meu Segredo, Labirinto de Paixões, Átame!, Matador.
mulher e, muito mais, pela mulher como fantasia. Ela também surge signatária da fantasia do macho, a quem ele não poupa.
Nesse sentido, no seu primeiro filme a fazer sucesso entre nós (“Mulheres a beira de um ataque de nervos”), é onde isso melhor se mostra.
Uma breve biografia: Embora ainda não tenha alcançado a reputação de Luis Buñuel, Pedro Almodóvar já é considerado internacionalmente um dos três maiores representantes do cinema espanhol (o outro é Carlos Saura).
Almodóvar passou a infância, e grande parte da adolescência, numa região muito pobre. Seu trabalho como vendedor de um mercado de pulgas madrilenho (mudou-se para a capital em 1968), ainda o impossibilitava financeiramente de estudar cinema. Outro obstáculo nessa época era o regime ditatorial de Franco, que fechou as escolas do ramo.
Antes de começar a se destacar como cineasta, em meados dos anos 1980, Almodóvar foi funcionário de uma companhia telefônica, cartunista, ator de teatro avant-garde e cantor de uma banda de rock, da qual participava travestido.
Desde 1974 fazendo filmes amadores (produzidos em Super 8), Almodóvar começou a deixar sua marca com ''Dark Habits'' (1984), a história de freiras delinquentes.
A filmografia que se seguiu é vista como uma mistura kitsch de comédia e melodrama, com recorrente abordagem das várias facetas da sexualidade (o diretor é assumidamente homossexual).
O cinema original, extravagante e ousado de Pedro Almodóvar, tem ainda forte componente autobiográfico - ''Toda minha vida está em meus filmes'', ele disse uma vez.
Seu primeiro grande sucesso mundial foi o ótimo ''Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos'' (1988), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, teve seu roteiro (escrito por Almodóvar) premiado no Festival de Veneza e projetou o ator Antonio Banderas.
Com ''Tudo Sobre Minha Mãe'' (1999) ele solidificou seu prestígio; a produção (que entre outras coisas mostra um jovem tentando descobrir a identidade de seu pai) ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Seu filme seguinte, ''Fale com Ela'', foi igualmente bem-recebido, embora deixe de lado a temática feminina e aborde o universo do homens. A história gira em torno da amizade de dois homens apaixonados por mulheres em coma - uma bailarina e uma toureira.
Nota: Autenticidade, vivacidade, polêmica, arte bizarra. São essas as palavras tags que tentam explicar a arte de Almodovar. Almodovar no entanto é mais que isso: ele é ousado, audacioso. Seu cinema é emborcado de polêmicas e muitas vezes retratam visões nada convencionais. Seguindo um feeling totalmente original, as obras de Pedro passam longe do hollywoodianismo cinematográfico. Sua fotografia, sua ótica visionária merece seu próprio destaque.
Fale com ela, para mim, é o melhor filme de Almodovar. Além de tratar o ser humano de uma maneira original, o filme tem uma película de arte inócua ao talento de Pedro. Para se ter uma idéia, Almodovar coloca um curta metragem dentro do próprio filme para quebrar a tensão dos conflitos entre as personagens. No entanto, a curta metragem dita é extremamente audaciosa: não vou contar a vocês do que se trata, mas para quem definitavemente não conhece Almodovar, ela é de deixar horrorizado. Se vocês não viram Fale com ela, não perca tempo: alugue na locadora ou compre ;P
Espero que tenham desfrutado desses encantadores mestres espanhóis que colocaram definitivamente os holofotes na produção do cinema espanhol. Da próxima vez que entrar numa locadora, espero que pense melhor antes de pegar qualquer filmezinho americano ;P
eu só tenho três coisas a dizer:
1- eu quero ver o próximo filme do Del Toro
2- adorei o Buñuel
3- eu já ouvi falar muito do Almodovar mas confesso, nunca assisti um filme seu.
O post ficou otimo, ainda que um pouco longo... gostei. (: